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3 de jan. de 2011

Este fruto apodrecendo a cada dentada

A parede branca
a folha em branco
as horas brandas que correm no relógio
desaprendi.
O que é esse calor aqui dentro?
aqui dentro está muito quente
tentei me perder em outras pernas e outros braços
juro que tentei
tentei beijar outras bocas
e sentir outros corpos sobre o meu corpo
e tudo foi como se eu estivesse fugindo de qualquer coisa
fugindo...
fugindo de algo maior que eu
algo maior que os meus 1.70 de altura
algo que internamente (quase?) não cabe em mim
não sei
mas tem mulheres que surgem de um jeito especial e único
e da mesma forma que chegam
partem
estraçalhando as partes internas
já tão estraçalhada por tantas outras anteriores a esta e a próxima
você pode ter milhares de pessoas e tentar tirar aquilo de dentro
mas aquilo de dentro só ressurge toda vez que você invade outra boca
porque você no fundo só quer aquela boca
a outra
a que não está mais aqui
e você fica naquela situação delicada
beijando uma boca e pensando em outra
diante de um rosto diferente querendo aquele outro
e quando você beija alguém na tentativa de esquecer outro alguém
o outro surge de uma maneira mais forte ainda
e te dá um soco na boca do estômago
e você acaba por se sentir uma merda caindo diretamente no vaso,
um fruto podre,
uma fruta pobre.
...

Só o tempo pode curar esta fixação barata
esta obsessão retardada

paranóica
irritante
que mete um medo danado.
Só ouvindo muito jazz
e muito reggae
e muita música clássica...
e muito intrumental pra tentar esvaziar aqui dentro
...

Confesso que as palavras tomam meu corpo
e elas precisam sair daqui de dentro
este é o jeito de esvaziar
Elas me tomam de assalto
tão de repente
elas surgem em mim de uma maneira que as vezes metem medo
de repente
de assalto
sou invadida por elas
e preciso vomitar
...

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